Abril aproxima-se: o ofício como ensaio para a liberdade
- Escovaria de Belomonte
- 20 de abr.
- 1 min de leitura
Falta pouco para o 25 de Abril.
A cidade já começa a lembrar. Nas paredes, nas palavras. Nos cartazes coloridos que vão surgindo entre o cinza. É uma memória que volta devagar, mas nunca esquece o caminho.
Na Escovaria de Belomonte, os dias continuam como sempre: madeira, cerdas, mãos que trabalham. Mas há um certo silêncio diferente no ar. Uma espécie de tensão doce. Como se o mês soubesse que algo importante se aproxima.
Não fazemos discursos. Não vendemos símbolos. Mas fazemos escovas — e isso também diz alguma coisa. Porque cada escova feita aqui é, no fundo, uma recusa à pressa. À produção cega. À ideia de que tudo tem de ser imediato.
E liberdade, às vezes, é isso.
Poder fazer devagar.
Escolher o gesto em vez do ruído.
Valorizar o detalhe.
Há quem pense que o 25 de Abril vive apenas nas datas. Nós achamos que também vive nos hábitos. Na forma como se trata a matéria, como se respeita o tempo, como se passa um ofício de mão em mão. A revolução não acabou — só mudou de forma.
Cinco dias antes de Abril, pensamos no que significa abrir.
Abrir espaço.
Abrir ideias.
Abrir futuro.
E talvez tudo comece por aqui.
Com um cabo de madeira bem polido.
Com um som de oficina.
Com um par de mãos a dizer, sem dizer:
estamos vivos.
estamos livres.
estamos a fazer.
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