top of page
Buscar

Abril aproxima-se: o ofício como ensaio para a liberdade

Falta pouco para o 25 de Abril.

A cidade já começa a lembrar. Nas paredes, nas palavras. Nos cartazes coloridos que vão surgindo entre o cinza. É uma memória que volta devagar, mas nunca esquece o caminho.


Na Escovaria de Belomonte, os dias continuam como sempre: madeira, cerdas, mãos que trabalham. Mas há um certo silêncio diferente no ar. Uma espécie de tensão doce. Como se o mês soubesse que algo importante se aproxima.


Não fazemos discursos. Não vendemos símbolos. Mas fazemos escovas — e isso também diz alguma coisa. Porque cada escova feita aqui é, no fundo, uma recusa à pressa. À produção cega. À ideia de que tudo tem de ser imediato.


E liberdade, às vezes, é isso.

Poder fazer devagar.

Escolher o gesto em vez do ruído.

Valorizar o detalhe.


Há quem pense que o 25 de Abril vive apenas nas datas. Nós achamos que também vive nos hábitos. Na forma como se trata a matéria, como se respeita o tempo, como se passa um ofício de mão em mão. A revolução não acabou — só mudou de forma.


Cinco dias antes de Abril, pensamos no que significa abrir.

Abrir espaço.

Abrir ideias.

Abrir futuro.


E talvez tudo comece por aqui.

Com um cabo de madeira bem polido.

Com um som de oficina.

Com um par de mãos a dizer, sem dizer:

estamos vivos.

estamos livres.

estamos a fazer.

 
 
 

Comments


bottom of page